Padres sinodais aprovam todos os 120
pontos do Documento Final da Assembleia Especial para a Região Pan-amazônica
Defesa dos povos indígenas, rito
amazônico, novos ministérios, diaconato das mulheres, inculturação e ecologia integral
são alguns dos temas que passaram hoje, dia 26 de outubro, pela aprovação da
assembleia do Sínodo para Amazônia, depois de três semanas de discussões.
Todos os 120 pontos do Documento foram aprovados. O quórum mínimo de aprovação era de 120 votos a favor, dois terços do total de 181 padres sinodais votantes. Os pontos que receberam menos votos foram o do sacerdócio de homens casados, com 128 votos, e o do diaconato para mulheres, com 137.
O texto final do Documento aprovado
ainda será publicado na próxima semana, o texto em circulação é uma versão de
trabalho.
Veja, abaixo, os principais assuntos
aprovados:
Sacerdócio
O Documento final propõe “estabelecer
critérios e regras por parte da autoridade competente, para ordenar sacerdotes
homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconato
permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterado,
permitindo ter uma família legitimamente constituída e estável, para promover a
vida da comunidade cristã através da pregação da Palavra e da celebração dos
sacramentos nas áreas mais remotas da região amazônica”. Deve-se especificar
que “a propósito, alguns se expressaram a favor de uma abordagem universal ao
argumento”.
A assembleia optou por continuar as
reflexões e acompanhar a “Comissão de estudo sobre o diaconato das mulheres”,
criada em 2016 pelo Papa Francisco, e “aguardar seus resultados”. O Sínodo
evidencia que em inúmeras consultas na Amazônia foi solicitado “o diaconato
permanente para as mulheres”, tema muito presente durante os trabalhos no
Vaticano.
O Documento dedica amplo espaço à
presença das mulheres. Como sugere a sabedoria dos povos ancestrais, a mãe
terra tem um rosto feminino e no mundo indígena as mulheres são “uma presença
viva e responsável na promoção humana”. O Sínodo pede que a voz das mulheres
seja ouvida, que sejam consultadas, participem de modo mais incisivo na tomada
de decisões, contribuam para a sinodalidade eclesial, assumam com maior força
sua liderança dentro da Igreja, nos conselhos pastorais ou “também nas
instâncias de governo”. Protagonistas e custódias da criação e da casa comum,
as mulheres são com frequência “vítimas de violência física, moral e religiosa,
inclusive de feminicídio”. O texto reitera o empenho da Igreja em defesa dos
seus direitos, de modo especial em relação às mulheres migrantes. Enquanto
isso, se reconhece a “ministerialidade” confiada por Jesus à mulher e se deseja
uma “revisão do Motu Proprio Ministeria quædam de São Paulo VI, para
que também as mulheres adequadamente formadas e preparadas possam receber os
ministérios do leitorado e do acolitato, entre outros que podem ser
desempenhados”. No específico, nesses contextos em que as comunidades católicas
são guiadas por mulheres, se pede a criação do “ministério instituído de mulher
dirigente de comunidade”.
Diaconato
permanente
Foram definidos como urgentes a
promoção, a formação e o apoio aos diáconos permanentes. O diácono, sob a
autoridade do bispo, está a serviço da comunidade e deve hoje promover a
ecologia integral, o desenvolvimento humano, a pastoral social e o serviço a
quem se encontra em situações de vulnerabilidade e pobreza, configurando-o a
Cristo. Portanto, é importante insistir numa formação permanente, marcada pelo
estudo acadêmico e prática pastoral, na qual sejam envolvidos também esposas e
filhos do candidato. O currículo formativo, explica o Sínodo, deverá incluir
temas que favoreçam o diálogo ecumênico, inter-religioso, intercultural, a
história da Igreja na Amazônia, a afetividade e a sexualidade, a cosmovisão
indígena e a ecologia integral. A equipe dos formadores será composta por
ministros ordenados e leigos. Deve ser encorajada a formação de futuros
diáconos permanentes nas comunidades que habitam às margens dos rios indígenas.
Formação
dos sacerdotes
A formação dos sacerdotes deve ser
inculturada: a exigência é preparar pastores que vivam o Evangelho, conheçam as
leis canônicas, sejam compassivos como Jesus: próximos às pessoas, capazes de
escuta, de curar e consolar, sem buscar se impor, manifestando a ternura do
Pai. Também no âmbito da formação ao sacerdócio, se deseja a inclusão de
disciplinas como a ecologia integral, a ecoteologia, a teologia da criação, as
teologias indígenas, a espiritualidade ecológica, a história da Igreja na
Amazônia, a antropologia cultural amazônica. O Sínodo recomenda que os centros
de formação sejam preferencialmente inseridos na realidade amazônica e que seja
oferecida a jovens não amazônicos a oportunidade de participar de sua formação
na Amazônia.
As
dores da Amazônia: o grito da terra e o grito dos pobres
O texto não reprime as muitas dores e
violências que hoje ferem e deformam a Amazônia, ameaçando sua vida: a
privatização de bens naturais; modelos de produções predatórias; desmatamento
que atinge 17% de toda a região; a poluição das indústrias extrativistas;
mudanças climáticas; narcotráfico; alcoolismo; tráfico de seres humanos; a
criminalização de líderes e defensores do território; grupos armados ilegais. É
extensa a página amarga sobre migração, que na Amazônia articula-se em três
níveis: mobilidade de grupos indígenas em territórios de circulação
tradicional; deslocamento forçado de populações indígenas; migração
internacional e refugiados. Para todos esses grupos, é necessário um cuidado
pastoral transfronteiriço capaz de incluir o direito à livre circulação. O
problema da migração, lê-se, deve ser enfrentado de maneira coordenada pelas
Igrejas de fronteira. Além disso, um trabalho pastoral permanente deve ser
pensado para os migrantes vítimas do tráfico de pessoas. O Documento sinodal
convida a prestar atenção ao deslocamento forçado de famílias indígenas nos
centros urbanos, sublinhando como esse fenômeno requer uma “pastoral conjunta
nas periferias”. Daí a exortação à criação de equipes missionárias que, em
coordenação com as paróquias, cuidem desse aspecto, oferecendo liturgias
inculturadas e favorecendo a integração dessas comunidades nas cidades.
Conversão
pastoral
A referência à natureza missionária
da Igreja também é central: a missão não é algo opcional, lembra o texto,
porque a Igreja é missão e a ação missionária é o paradigma de toda obra da
Igreja. Na Amazônia, ela deve ser “samaritana”, ou seja, ir ao encontro
de todos; “Madalena”, ou seja, amada e reconciliada para anunciar com alegria o
Cristo ressuscitado; “Mariana”, ou seja, geradora de filhos para a fé e
“inculturada” entre os povos a que serve. É importante passar de uma pastoral
“de visita” a uma pastoral “de presença permanente” e, para isso, o Documento
sinodal sugere que as Congregações religiosas do mundo estabeleçam pelo menos
um posto missionário em um dos países da Amazônia.
O
sacrifício dos missionários mártires
O Sínodo não esquece os muitos
missionários que deram a vida para transmitir o Evangelho na Amazônia, cujas
páginas mais gloriosas foram escritas pelos mártires. Ao mesmo tempo, o
Documento lembra que o anúncio de Cristo na região realizou-se muitas vezes em
conivência com os poderes opressores das populações. Por esse motivo, hoje a
Igreja tem “a oportunidade histórica” de se distanciar das novas potências
colonizadoras, ouvindo os povos amazônicos e exercendo sua atividade profética
“de forma transparente”.
Diálogo
ecumênico e inter-religioso
Nesse contexto, foi dada grande
importância ao diálogo ecumênico e inter-religioso: “Caminho indispensável da
evangelização na Amazônia”, afirma o texto sinodal, ele deve partir, no
primeiro caso, da centralidade da Palavra de Deus para iniciar verdadeiros
caminhos de comunhão. No âmbito inter-religioso, o Documento incentiva um maior
conhecimento das religiões indígenas e dos cultos afrodescendentes, a fim de
que cristãos e não cristãos possam agir juntos em defesa da Casa comum. Por
esse motivo, são propostos momentos de encontro, estudo e diálogo entre as Igrejas
na Amazônia e os seguidores das religiões indígenas.
Urgência
de uma pastoral indígena e de um ministério juvenil
O Documento também recorda a urgência
de uma pastoral indígena que tenha um lugar específico na Igreja: é necessário
criar ou manter, de fato, “uma opção preferencial pelas populações indígenas”,
dando também maior impulso missionário às vocações autóctones, porque a
Amazônia também deve ser evangelizada pelos amazônicos. Depois, dar espaço aos
jovens amazônicos, com suas luzes e sombras. Divididos entre tradição e
inovação, imersos numa intenda crise de valores, vítimas de realidades tristes
como a pobreza, violência, desemprego, novas formas de escravidão e dificuldade
de acesso à educação, muitas vezes acabam na prisão ou em mortos por suicídio.
E, no entanto, os jovens amazônicos têm os mesmos sonhos e as mesmas esperanças
que os outros jovens do mundo e da Igreja. Chamada a ser uma presença
profética, deve acompanhá-los em seu caminho, para impedir que sua identidade e
sua autoestima sejam prejudicadas ou destruídas. Em particular, o Documento
sugere “um renovado e ousado ministério juvenil”, com uma pastoral sempre ativa
e centrada em Jesus. De fato, os jovens, lugar teológico e profetas da
esperança, querem ser protagonistas e a Igreja na Amazônica quer reconhecer o
seu espaço. Por isso, o convite a promover novas formas de evangelização também
através das mídias sociais e ajudar os jovens indígenas a alcançar uma
interculturalidade saudável.
Pastoral
urbana e as famílias
O texto conclusivo do Sínodo se detém
no tema da pastoral urbana, com um foco particular nas famílias: nas periferias
da cidade, elas sofrem pobreza, desemprego, falta de moradia, além de vários
problemas de saúde. Torna-se, portanto, necessário defender o direito de todos
à cidade como desfrute justo dos princípios de sustentabilidade, democracia e
justiça social. É preciso lutar, lê-se no texto, a fim de que os direitos
fundamentais básicos sejam garantidos nas “favelas” e nas “villas misérias”.
Central deve ser também o estabelecimento de um “ministério de acolhimento”
para uma solidariedade fraterna com migrantes, refugiados e sem-teto que vivem
no contexto urbano. Nesse âmbito, uma ajuda válida vem das Comunidades
Eclesiais de Base, “um presente de Deus para as Igrejas locais da Amazônia”. Ao
mesmo tempo, as políticas públicas são convidadas a melhorar a qualidade de
vida nas áreas rurais, a fim de evitar a transferência descontrolada de pessoas
para a cidade.
Conversão
cultural
A inculturação e a interculturalidade
são instrumentos importantes, prossegue o Documento, para alcançar uma
conversão cultural que leva o cristão a ir ao encontro do outro para aprender
com ele. Os povos amazônicos, de fato, com seus “perfumes antigos” que
contrastam o desespero que reina no continente e com seus valores de
reciprocidade, solidariedade e senso de comunidade, oferecem ensinamentos de
vida e uma visão integrada da realidade, capaz de entender que toda a criação
está interligada e, portanto, garantir uma gestão sustentável. A Igreja
compromete-se a ser aliada das populações indígenas, reitera o texto sinodal,
sobretudo para denunciar os ataques perpetrados contra suas vidas, os projetos
de desenvolvimento predatórios etnocidas e ecocidas e a criminalização dos
movimentos sociais.
Defender
a terra é defender a vida
“A defesa da terra”, lê-se no
documento, “não tem outro objetivo a não ser a defesa da vida” e se baseia no
princípio evangélico da defesa da dignidade humana. Portanto, devemos respeitar
os direitos à autodeterminação, à delimitação dos territórios e à consulta
prévia, livre e informada dos povos indígenas. Um ponto específico é dedicado às
populações indígenas em isolamento voluntário (Piav) ou em Isolamento e contato
inicial (Piaci) que hoje, na Amazônia, somam cerca de 130 unidades e são muitas
vezes vítimas de limpeza étnica: a Igreja deve empreender dois tipos de ação,
pastoral e outra “de pressão”, para que os Estados protejam os direitos e a
inviolabilidade dos territórios dessas populações.
Teologia
indígena e piedade popular
Na perspectiva da inculturação, isto
é, da encarnação do Evangelho nas culturas indígenas, é dado espaço à teologia
indígena e à piedade popular, cujas expressões devem ser valorizadas,
acompanhadas, promovidas e às vezes “purificadas”, pois são momentos
privilegiados de evangelização que devem conduzir ao encontro com Cristo. O
anúncio do Evangelho, de fato, não é um processo de destruição, mas de
crescimento e consolidação daquela semeadura Verbos presente nas culturas. Daí
a clara rejeição de uma “evangelização colonial” e do “proselitismo”, em favor
de um anúncio inculturado que promova uma Igreja de rosto amazônico, em pleno
respeito e igualdade com a história, a cultura e o estilo de vida das
populações locais. A este respeito, o Documento sinodal propõe que os centros
de pesquisa da Igreja estudem e recolham as tradições, as línguas, as crenças e
as aspirações dos povos indígenas, encorajando o trabalho educativo a partir da
sua própria identidade e cultura.
Criar
uma Rede de Comunicação Eclesial Panamazônica
Também na área da saúde – continua o
Documento – este projeto educativo deverá promover o conhecimento ancestral da
medicina tradicional de cada cultura. Ao mesmo tempo, a Igreja se compromete a
oferecer assistência de saúde lá onde o Estado não chega. Há também um forte
apelo a uma educação à solidariedade, baseada na consciência de uma origem
comum e de um futuro partilhado por todos, assim como a uma cultura da
comunicação que promova o diálogo, o encontro e o cuidado da “casa comum”.
Concretamente, o texto sinodal sugere a criação de uma Rede de comunicação
eclesial pan-amazônica, de uma rede escolar de educação bilíngue e de novas
formas de educação também à distância.
Conversão
ecológica
Diante de “uma crise social e
ambiental sem precedentes”, o Sínodo apela a uma Igreja amazônica capaz de
promover uma ecologia integral e uma conversão ecológica segundo a qual “tudo
está intimamente conectado”.
Ecologia
integral, único caminho possível
A esperança é que, reconhecendo “as
feridas causadas pelo ser humano” ao território, sejam procurados “modelos de
desenvolvimento justo e solidário”. Isto traduz-se numa atitude que colega o
cuidado pastoral da natureza à justiça para com as pessoas mais pobres e
desfavorecidas da terra. A ecologia integral não deve ser entendida como um
caminho extra que a Igreja pode escolher para o futuro, mas como a única forma
possível para salvar a região do extrativismo predatório, do derramamento de
sangue inocente e da criminalização dos defensores da Amazônia. A Igreja, como
“parte de uma solidariedade internacional”, deve promover o papel central do
bioma amazônico para o equilíbrio do planeta e encorajar a comunidade
internacional a fornecer novos recursos econômicos para sua proteção,
fortalecendo os instrumentos da Convenção-Quadro sobre Mudança Climática.
Defesa
dos direitos humanos é uma necessidade de fé
Defender e promover os direitos
humanos, além de ser um dever político e uma tarefa social, é uma exigência de
fé. Diante deste dever cristão, o Documento denuncia a violação dos direitos
humanos e a destruição extrativista; assume e apoia, também em aliança com
outras Igrejas, as campanhas de desinvestimento das empresas extrativistas que
causam danos sociais e ecológicos à Amazônia; propõe uma transição energética
radical e a busca de alternativas; propõe também o desenvolvimento de programas
de formação para o cuidado da “casa comum”. Pede-se aos Estados que deixem de
considerar a região como uma dispensa inesgotável, ao mesmo tempo que apelam a
um “novo paradigma de desenvolvimento sustentável” socialmente inclusivo que
combine conhecimentos científicos e tradicionais. Os critérios comerciais, é a
recomendação, não devem estar acima dos critérios ambientais e dos direitos
humanos.
Igreja
aliada das comunidades amazônicas
O apelo é à responsabilidade: todos
somos chamados à custódia da obra de Deus. Os protagonistas do cuidado,
proteção e defesa dos povos são as próprias comunidades amazônicas. A Igreja é
sua aliada, caminha com eles, sem impor um modo particular de agir,
reconhecendo a sabedoria dos povos sobre a biodiversidade contra todas as
formas de biopirataria. Pede-se que os agentes pastorais e os ministros
ordenados sejam formados a esta sensibilidade socioambiental, seguindo o
exemplo dos mártires da Amazônia. A ideia é criar ministérios para o cuidado da
casa comum.
Defesa
da vida
O Documento reafirma o empenho da Igreja
em defender a vida “desde a concepção até o seu fim” e em promover o diálogo
intercultural e ecumênico para conter as estruturas de morte, pecado, violência
e injustiça. Conversão ecológica e defesa da vida na Amazônia se traduzem para
a Igreja em um chamado a “desaprender, aprender e reaprender para superar
qualquer tendência a assumir modelos coloniais que tenham causado danos no
passado”.
Pecado
ecológico e direito à água potável
Proposta a definição de “pecado
ecológico” como “ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade, o
meio ambiente”, as futuras gerações e a virtude da justiça. Para reparar a
dívida ecológica que os países têm com a Amazônia, sugere-se a criação de um
fundo mundial para as comunidades amazônicas, a fim de protegê-las do desejo
predatório das empresas nacionais e multinacionais. O Sínodo recorda “a
necessidade urgente de desenvolver políticas energéticas que reduzam
drasticamente as emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases ligados
à mudança climática”, promove as energias limpas e chama a atenção para o
acesso à água potável, ao direito humano básico e condições para o exercício de
outros direitos humanos. Proteger a terra significa incentivar a reutilização e
a reciclagem, reduzir o uso de combustíveis fósseis e plásticos, mudar hábitos
alimentares como o consumo excessivo de carne e peixe, adotar estilos de vida
sóbrios, plantar árvores. Neste contexto, está incluída a proposta de um
Observatório Social Pastoral Amazônico que trabalhe em sinergia com CELAM,
CLAR, CARITAS, REPAM, episcopados, igrejas locais, universidades católicas e
atores não eclesiais. Também foi proposta a criação de um escritório amazônico
dentro do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
Novos
caminhos de conversão sinodal
Superar o clericalismo e as
imposições arbitrárias, reforçar uma cultura do diálogo, da escuta e do
discernimento espiritual, responder aos desafios pastorais. São essas as
características sobre as quais se deve fundar uma conversão sinodal à qual a
Igreja é chamada para avançar em harmonia, sob o impulso do Espírito
vivificante e com audácia evangélica.
Sinodalidade, ministerialidade, papel
ativo dos leigos e vida consagrada
O desafio é interpretar à luz do
Espírito Santo os sinais dos tempos e identificar o caminho a seguir a serviço
do desenho de Deus. As formas de exercício da sinodalidade são várias e deverão
ser descentralizadas, atentas aos processos locais, sem enfraquecer o elo com
as Igrejas irmãs e com a Igreja universal. Sinodalidade se traduz, em
continuidade com o Concílio Vaticano II, em corresponsabilidade e
ministerialidade de todos, participação dos leigos, homens e mulheres,
considerados “atores privilegiados”. A participação do laicato, seja na
consulta, seja na tomada de decisões na vida e missão da Igreja – explica o
Documento Final – deve ser reforçada e ampliada a partir da promoção e
concessão de “ministérios a homens e mulheres de modo équo”. Evitando
personalismos, talvez com encargos em rodízios, “o bispo pode confiar, com um
mandato com prazo determinado, na ausência de sacerdotes, o exercício do
cuidado pastoral das comunidades a uma pessoa não imbuída do caráter
sacerdotal, que seja membro da própria comunidade”. A responsabilidade desta
última, especifica-se, permanecerá a cargo do sacerdote. O Sínodo aposta ainda
numa vida consagrada com rosto amazônico, a partir de um reforço das vocações
autóctones: entre as propostas, se destaca o caminhar junto aos pobres e
excluídos. Pede-se ainda que a formação seja centralizada na
interculturalidade, inculturação e diálogo entre as espiritualidades e as
cosmovisões amazônicas.
Organismo
eclesial regional pós-sinodal e Universidade Amazônica
O Sínodo propõe projetar novamente a
organização das Igrejas locais de um ponto de vista pan-amazônico,
redimensionando as vastas áreas geográficas da diocese, reagrupando Igrejas
particulares presentes na mesma região e criando um Fundo amazônico para a promoção
da evangelização a fim de enfrentar o “custo da Amazônia”. Nesta ótica, se
insere a ideia de criar um Organismo eclesial regional pós-sinodal, articulado
com a Repam e o Celam, a fim de assumir muitas das propostas que emergiram no
Sínodo. Em âmbito formativo, se invoca a instituição de uma Universidade
Católica Amazônica baseada na pesquisa interdisciplinar, na inculturação e no
diálogo intercultural e fundada principalmente na Sagrada Escritura, no
respeito dos costumes e das tradições das populações indígenas.
Rito
amazônico
Para responder de modo autenticamente
católico ao pedido das comunidades amazônicas de adaptar a liturgia valorizando
a visão do mundo, as tradições, os símbolos e os ritos originários, se pede a
este Organismo da Igreja na Amazônia de constituir uma comissão competente para
estudar a elaboração de um rito amazônico que “expresse o patrimônio litúrgico,
teológico, disciplinar e espiritual da Amazônia”. Este se acrescentaria aos 23
ritos já presentes na Igreja Católica, enriquecendo a obra de evangelização, a
capacidade de expressar a fé numa cultura própria, o sentido de
descentralização e de colegialidade que a Igreja Católica pode expressar.
Também se faz a hipótese de acompanhar os ritos eclesiais com o modo com
os quais os povos cuidam do território e se relacionam com as suas águas. Por
fim, com a finalidade de favorecer o processo de inculturação da fé, o Sínodo
expressa a urgência de formar comitês para a tradução e a elaboração de textos
bíblicos e litúrgicos nas línguas dos diferentes locais, “preservando a matéria
dos sacramentos e adaptando-os à forma, sem perder de vista o essencial”.
Também deve ser encorajado em nível litúrgico a música e o canto. No final do
Documento, se invoca a proteção da Virgem da Amazônia, Mãe da Amazônia,
venerada com vários títulos em toda a região.
Manuela Castro – Cidade do Vaticano
Com informações do Vatican News