05/02/2017

“E TE CHAMAVAM MARIA...”



Quando iniciei o meu trabalho como diretor espiritual do seminário menor nos idos de 1993, ficou também sob a minha incumbência algumas aulas de formação para os futuros candidatos ao ministério sacerdotal. Além da formação litúrgica, passei a apresentar algumas formações sobre a devoção Mariana. Essa sempre esteve presente no modo em que fui introduzido na fé no meio familiar. O tempo do seminário reforçou ainda mais esse meu olhar para Maria e a compreensão do seu ministério no grande mistério salvífico. A devoção diária do terço foi criando um hábito meditativo em meio às distrações da mente que me vinham com bastante frequência. 
Na época cheguei a elaborar uma apostila que tinha o título que estou dando a esses artigos. É de uma canção do Pe. Zezinho, que sempre reservou em suas composições um especial espaço para Maria, compondo pequenas peças mistas de teologia mariana carregada de profunda e poética espiritualidade. Essas canções também ‘embalaram’ a minha fé. Esse Ano Mariano, que celebra os trezentos anos da aparição da imagem de Aparecida e os cem anos da aparição da virgem de Fátima, merece a retomada e o empenho de voltar a escrever sobre Maria.
Como muito já se disse ou escreveu, mas “sobre Maria nunca se dirá o bastante” (Sto. Afonso Maria Monfort), me coloco também na esteira daqueles que tentam ajudar outros na compreensão e no valor da devoção mariana. Tenham um pouco de paciência na frequência os textos, pois necessito conferir o que escrevo com outros autores, além do magistério da Igreja, para dar fundamento ao texto. Darei as devidas citações aos seus autores e ao mesmo tempo darei alinhamento aos vários pensamentos aqui partilhados. Pode ser que haja repetição de ideias por distração ou para reforçar algum pensamento.
O Pe. André Moffatt, ss (Sociedade de são Sulpício) foi meu professor de Mariologia no Seminário Maior Nossa Senhora de Fátima, em Brasília. Dele tomo algumas linhas de reflexão. Meu agradecimento pela clareza e síntese de pensamento.
Falar de Maria traz consigo certa facilidade, pois ela está presente de um modo particular tanto na Igreja católica quanto Ortodoxa.  Pelo forte apelo popular que a devoção mariana tem alcançado e ‘forçado’ a reflexão da própria Igreja. Mas acima de tudo isso está o seu papel na história da salvação. Ela é mãe de Deus e nossa mãe por consequência de nossa comunhão com o Filho ao nos chamar de irmãos. O sentimento materno-filial ganhou proporções grandiosas, visceral.
Mas é claro que a maior dificuldade é compor uma reflexão de um modo teológico certo, sem exageros e sentimentalismos, dando-lhe o verdadeiro sentido e colocando-lhe no devido lugar. A maternidade de Maria, ponto primeiro de nossa reflexão e de onde emana toda sua virtuosidade, encontra um obstáculo na sociedade atual que já não valoriza tanto a maternidade (aborto, mães solteiras e desassistidas etc.). Sem falar de que a virgindade, tanto masculina como feminina, não encontra mais valor em nossa sociedade diante do liberalismo sexual. Maria é virgem por uma opção pessoal e Mãe por uma graça de Deus. O contexto ecumênico torna também difícil tratar de Maria dado ao cristocentrismo e a mediação única de Cristo. A tendência é omitir a pessoa de Maria nos diálogos que tentamos travar.
Gosto muito de trata-la como a Virgem, mesmo compreendendo o valor de sua consagração, o que me leva a dar-lhe esse nome é o seu coração todo voltado para Deus, onde outros elementos não encontram tanta importância.
Está aberta a temporada de reflexões marianas. Um leque de possibilidades desponta a nossa frente. Vamos juntos nesse caminho. Ela mesma se faz companheira de caminhada e nos ilumina com a própria luz que ela recebe do Filho. Que essa partilha nos ajude a crer melhor, a rezar e a esperar com a mesma confiança que essa primeira cristã soube viver a sua fé.
                                                                              Pe. João Bosco Vieira Leite