“Pois, anunciar o Evangelho não é para mim motivo
de glória.
É antes uma necessidade que se me impõe.
Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!” (1 Cor
9, 16).
Amados leitores e leitoras: desejo que continue ressoando na vida e no
coração de todos vocês aquele maravilhoso anúncio do Natal – “Glória a Deus nas
alturas”; e que seja iminente, neste ano que começa, o cumprimento daquela
singela promessa: “e paz para aqueles que Ele ama”!
Introdução. Quero começar lembrando que, ao final da Carta de dezembro de 2018,
informei que entregaria à nova Coordenação do Movimento de Cursilhos de
Cristandade do Brasil o prosseguimento da redação desses textos mensais.
Decidiu a Coordenação que, por ora, eu dê continuidade à elaboração dessas
cartas. Por isso, ao começar a redigir a carta de número 233, faço-o com
renovado prazer, com renovada alegria e com renovado entusiasmo, agradecendo a
Deus e aos caríssimos irmãos e irmãs do Grupo Executivo Nacional, a
oportunidade de continuar essa missão evangelizadora, e esperando, ao mesmo
tempo, contar com a benevolência, a compreensão e o interesse dos meus sempre
pacientes e amáveis leitores.
Iniciando, pois, essa nova etapa – nova Coordenação Nacional e novo ano
– faço aqui duas observações importantes que poderão ajudar-me no cumprimento
da missão que me foi confiada, e que envolvem a colaboração específica de quem
lê as Cartas Mensais. A primeira diz respeito à preocupação do escritor em
relação ao leitor. Essas cartas têm como primeiros destinatários os integrantes
do Movimento de Cursilhos, mas, pelas motivações que contêm, servem como
mensagem evangelizadora também para outros grupos de cristãos. Por isso, nem
sempre os pontos que questionam ou levam à reflexão, fazem referência direta ao
MCC, o que exige dos leitores cursilhistas, um esforço no sentido de encontrar
uma adequada aplicação ao MCC. A segunda diz respeito à reação do leitor
em relação ao escritor. Seria, a meu ver, valioso e conveniente um “retorno”
por parte dos leitores em forma de sugestões, comentários, observações e
críticas pertinentes, que me ajudassem a discernir melhor as necessidades e
expectativas dos destinatários dessas missivas.
·
Novo ano, novo
tempo, novos horizontes e novas propostas para a evangelização. A progressão natural da história e da cultura, e o transcurso do tempo
que parece tornar-se mais visível no início de cada ano, materializam-se nos
avanços observados em todos os campos da atividade humana. Nos tempos atuais
esses avanços são fomentados pelas altas tecnologias, cujo acesso já não é
privilégio de alguns, mas está praticamente ao alcance de todos. Como
resultado, também dos seguidores de Jesus se exige que, fiéis aos fundamentos
da fé, sem renunciar ao Caminho, à Verdade e à Vida, criem e ponham em ação
novas propostas para o anúncio do Reino de Deus: “O Reino de Deus está no
meio de vós!” (Lc 1,21b). Assim, neste novo tempo, da Igreja-Povo de Deus,
dos ministros anunciadores do Reino, de cada cristão católico, espera-se que,
sem abrir mão do fundamental e sem cair na vulgarização da mensagem de Jesus,
sejam criativos, desacomodados, dispostos a “sair” como pede o papa Francisco,
para evangelizar, sobretudo, as “periferias existenciais”. Estamos dispostos a
começar o ano abraçando a nova proposta de evangelização sugerida na Evangelii
Gaudium, sendo a “comunidade de discípulos missionários que se envolvem,
acompanham, frutificam, festejam, vão na frente e tomam a iniciativa”? (EG 24)
·
São Paulo Apóstolo,
exemplo para o evangelizador de hoje. Por
oportuno, lembro que o Papa Paulo VI instituiu São Paulo como Patrono do
Movimento de Cursilhos, cujos integrantes são continuamente convocados a
seguir-lhe o exemplo. A celebração litúrgica de sua conversão ocorre neste mês
de janeiro, no dia 25. Pela narrativa dos Atos dos Apóstolos, é suficiente
acompanhar um pouco de suas viagens pelas tantas regiões para as quais partiu
em missão evangelizadora, para perceber sua capacidade de adaptação. É isso que
ele quer dizer quando escreve aos Coríntios: “Assim, livre em relação a
todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível.
Com os judeus, me fiz judeu, para ganhar os judeus. Com os súditos da Lei, me
fiz súdito da Lei – – embora não fosse mais súdito da Lei para ganhar os
súditos da Com os sem-lei, me fiz um sem-lei – eu que não era sem a lei de
Deus, já que estava na lei de Cristo –, para ganhar os sem-lei. Com os fracos
me fiz fraco, para ganhar os fracos. Para todos eu me fiz tudo, para certamente
salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para dele me tornar
participante” (1Cor 9, 19-23).
·
Necessidade e
urgência de conversão. Ler todas as
exortações do papa Francisco ou todas as cartas paulinas, entretanto, será de
pouca ou nenhuma utilidade para o Reino de Deus, se não houver da parte de cada
um, de cada uma, um esforço de conversão. Conversão, vale lembrar, significa
“mudança de mentalidade” e, consequentemente, de atitudes. Significa passar da
teoria à prática. Não é somente deixar de ser um grande ou um pequeno pecador e
tornar-se um ícone de todas as virtudes cristãs. Converter-se é um processo.
Se, por um lado, um processo é algo complexo e, frequentemente até doloroso,
por outro lado, em se tratando da passagem (conversão) de uma mentalidade
acomodada ou de uma religião tíbia para uma dimensão evangelizadora e dinâmica,
tal processo dura toda a vida! Nesse sentido é imprescindível, nestes nossos
novos horizontes eclesiais e evangelizadores, ler e reler esse precioso
documento do papa Francisco sobre a Alegria do Evangelho.
Cursos breves, palestras, retiros, citações, facilidade de consultas do
texto do Papa na Internet – todo esforço valerá a pena nesse processo de
conversão para uma evangelização dinâmica. Trago apenas um exemplo em que
o Papa nos fala sobre o fato de “o Tempo ser superior ao Espaço”: “Este
princípio permite trabalhar a longo prazo, sem a obsessão pelos resultados
imediatos. Ajuda a suportar, com paciência, situações difíceis e hostis ou as
mudanças de planos que o dinamismo da realidade impõe. É um convite a assumir a
tensão entre plenitude e limite, dando prioridade ao tempo. […] Dar prioridade
ao espaço leva-nos a proceder como loucos para resolver tudo no momento
presente, para tentar tomar posse de todos os espaços de poder e autoafirmação.
É cristalizar os processos e pretender pará-los. Dar prioridade ao tempo é
ocupar-se mais com iniciar processos do que possuir espaços. O tempo ordena os
espaços, ilumina-os e transforma-os em elos duma cadeia em constante
crescimento, sem marcha atrás. Trata-se de privilegiar as ações que geram novos
dinamismos na sociedade e comprometem outras pessoas e grupos que os
desenvolverão até frutificar em acontecimentos históricos importantes. Sem
ansiedade, mas com convicções claras e tenazes” (EG 223). Não poderia
terminar sem outra oportuna citação do mesmo documento: “A pastoral em chave
missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: ‘fez-se sempre
assim’. Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os
objetivos, as estruturas, os estilos e os métodos evangelizadores das
respectivas comunidades” (EG 33). Seguir orientações como essa
também faz parte da conversão!
Com toda a força de minha amizade e consideração para com todos os meus
queridos leitores e leitoras, renovo meus votos de um fecundo ano de 2019 e
que, no decorrer dos novos dias que se aproximam, possamos, cada um no seu
lugar e nas distintas circunstâncias de vida, irradiar com nosso testemunho e
nossa palavra o mandamento de Jesus: Completou-se o tempo, e o Reino de
Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa Nova” (Mc 1,15). E que
em nossa missão, sejamos acompanhados por Maria, a primeira evangelizadora!
Com o carinho de meu abraço fraterno!!
Pe. José Gilberto BERALDO
Equipe
sacerdotal do Grupo Executivo Nacional
MCC Brasil