No Antigo Testamento
encontramos algumas referências aos cuidados que devemos ter com os pobres.
Deus, pela boca dos profetas ou pela mão do escritor sagrado sempre esteve
atento às condições de vida dos menos favorecidos. Em Sofonias está dito:
“Procurai a Iahweh vós todos, os pobres da terra, que realizais o seu julgamento”
(2,3). Os pobres devem procurar a justiça divina, sendo justos para com todos,
mas, também vivendo segundo a justiça de Deus.
No Salmo 34 (33),
versículo 7, diz o salmista: “Este pobre gritou e Iahweh ouviu, salvando-o de
suas angústias todas”. O pobre nunca está sozinho. O Senhor vela por ele. O
Senhor o acompanha.
Nos Evangelhos, Jesus
Cristo, a Palavra viva de Deus entre nós, demonstrou toda a sua atenção para
com os pobres. A Igreja Católica, por sua vez, no rastro da Palavra de Deus
jamais descuidou da assistência aos pobres. Foi a Igreja, na Idade Média, que
começou a cuidar dos pobres, fundando hospitais, orfanatos e asilos, além de
outras atividades através das Ordens religiosas que foram se constituindo.
No sermão da
montanha, ou seja, nas bem-aventuranças, Jesus foi enfático ao dizer: “Felizes
os pobres no espírito, porque deles é o Reino de Deus” (Mt 5,3). É a primeira
bem-aventurança. Pobres no espírito significam aqueles que se tornam
disponíveis para servir. Que vencem o orgulho próprio, a vaidade, a soberba.
Que se tornam pobres com os pobres.
No Evangelho segundo
Lucas, disse Jesus, dirigindo-se ao jovem rico: “Uma coisa ainda te falta.
Vende tudo o que tens, distribui aos pobres e terás um tesouro nos céus”
(18,22). Doar e doar-se aos pobres não é apenas ampará-los em suas
necessidades, porém, acima de tudo, é fazer-se pobre como eles, para melhor
compreender o seu modo de vida, as suas angústias e esperanças, e, assim,
enxergar neles a figura do Cristo que, passando pelo calvário, abriu-nos a
porta do céu.
A Igreja na América
Latina, seguindo os passos de Jesus, o seu fundador, lançou-se a uma opção
preferencial pelos pobres. Porém, é preciso que essa opção esteja cada vez mais
nítida na visão e na ação de todos nós, do clero e do laicato.
Nós sabemos que Jesus
veio para todos, como Ele mesmo o disse: “Eu vim para que todos tenham vida e a
tenham em abundância” (Jo 10,10).
O Filho de Deus não
fez acepção de pessoas. Todos foram chamados a participar do Banquete Celeste.
Mas, Ele esteve com os pobres, no meio dos pobres, que acreditaram n’Ele, que O
ouviram, que O seguiram, mesmo depois da sua morte, ressurreição e elevação aos
céus.
O Papa Francisco
houve por bem de instituir o 1º Dia Mundial dos Pobres. Seguindo o
exemplo daquele de quem tomou o nome emprestado, São Francisco de Assis, o
sucessor de Pedro tem demonstrado o seu amor incontido por todos nós, mas, de
modo especial, pelos mais pobres. E ele já fazia isso no seu pastoreio, na sua
terra natal, a Argentina. Não é, portanto, o modismo de um Papa que quer ser
populista. Não! É um modo de ser e de agir, que o acompanha desde longa data.
O lançamento do 1º
Dia Mundial dos Pobres deu-se no Vaticano, quando se comemorava a Memória
de Santo António de Lisboa, a 13 de junho de 2017. Na ocasião, disse o Sumo
Pontífice, um jesuíta de coração verdadeiramente franciscano: “Desejo que, na
semana anterior ao Dia Mundial dos Pobres – que este ano será no dia 19 de
novembro, XXXIII domingo do Tempo Comum –, as comunidades cristãs se empenhem
na criação de muitos momentos de encontro e amizade, de solidariedade e ajuda
concreta. Poderão ainda convidar os pobres e os voluntários para participarem,
juntos, na Eucaristia deste domingo, de modo que, no domingo seguinte, a
celebração da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo
resulte ainda mais autêntica. Na verdade, a realeza de Cristo aparece em todo o
seu significado precisamente no Gólgota, quando o Inocente, pregado na cruz,
pobre, nu e privado de tudo, encarna e revela a plenitude do amor de Deus. O
seu completo abandono ao Pai, ao mesmo tempo, que exprime a sua pobreza total,
torna evidente a força deste Amor, que O ressuscita para uma vida nova no dia
de Páscoa”.
A nossa esperança
pessoal enquanto pastor na Igreja de Aracaju é de que todos nós possamos
desenvolver ações que contemplem os nossos irmãos e as nossas irmãs, que mais
necessitam de bens materiais que lhes proporcionem uma vida digna e de bens
espirituais que lhes aproximem ainda mais do Cristo Eucarístico, que lhes façam
estreitar muito mais os seus corações ao Sagrado Coração de Jesus.
Lembremo-nos sempre
que o pobrezinho nascido numa manjedoura, em Belém de Judá, tornou-se o
Salvador da humanidade.
Artigo
publicado no Jornal da Cidade, edição de 11 a 13 de novembro/2017