Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
A memória é uma reserva
técnica e experiencial de lições consolidadas na vivência, a serem aprendidas
e, muitas delas, revisitadas. Para isso, exige-se humildade, qualidade daqueles
que têm alma de peregrino aprendiz, livre da habitual pretensão humana de acreditar
que tudo sabe – cegueira que estreita horizontes e leva, até mesmo, à
desconsideração de evidências interpelantes. E o começo de um ano novo depende
da memória e de suas muitas lições para que sejam assumidos propósitos capazes
de alimentar a esperança.
Nesse sentido, a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2020 apresenta importante indicação: “A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que se sucedem, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa –, a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos”. Torna-se urgente aprender as lições que emergem desses tristes cenários, para a formulação inteligente e humanitária de soluções capazes de dar novo rumo à civilização contemporânea.
Nesse sentido, a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2020 apresenta importante indicação: “A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que se sucedem, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa –, a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos”. Torna-se urgente aprender as lições que emergem desses tristes cenários, para a formulação inteligente e humanitária de soluções capazes de dar novo rumo à civilização contemporânea.
No Brasil, dolorosa
memória está prestes a completar um ano: a tragédia-crime ocorrida em
Brumadinho, no dia 25 de janeiro de 2019. A dor revivida grita como
lição, que não pode se restringir a investimentos midiáticos para limpar a
imagem enlameada dos responsáveis pela tragédia. Urgente é alcançar a sabedoria
que permite reconhecer a necessidade de se viver uma ecologia integral. A
partir desse reconhecimento, é possível corrigir disparates que ameaçam o
Brasil e o mundo, com ações rápidas e incisivas para derrubar a idolatria do
dinheiro – hoje o seu domínio é pacificamente aceito por pessoas e sociedades.
Não se consegue considerar, adequadamente, a desafiadora questão antropológica
que permeia diferentes dinâmicas sociais: em nome do apego ao dinheiro, que se
acumula para além do necessário, tudo se justifica, até a corrupção. O que vale
é ganhar sempre mais, mesmo na contramão do bem de quem é mais pobre.
É preciso, pois,
reconhecer as contradições do antropocentrismo no cenário contemporâneo, que
coloca a razão técnica acima da própria realidade – dilui a força experiencial
alicerçada no amor, que transforma, gera esperança e cura. Apegar-se apenas à
razão técnica, desconsiderando a força experiencial com fundamentos no amor,
conduz pessoas ao caos, por não saberem qual o seu verdadeiro lugar. Sem se
autocompreender, de modo qualificado, o ser humano entra em contradição com a
sua própria realidade. Aprenda-se a lição: é um erro depositar tanta confiança
apenas na dimensão racional. Deve-se ir além e, em todas as práticas
cotidianas, hábitos e decisões, investir no rico horizonte da ecologia
integral. O ponto de partida é admitir que ninguém, individualmente, é capaz de
tudo conhecer, assumindo que se sabe menos do que se pensa saber.
A perspectiva da ecologia
integral oferece novos sentidos e, assim, possibilita enfrentar adequadamente
as diferentes crises que ameaçam o mundo. Oportuno é retomar o significado da
ecologia, conceito que remete às relações entre todos os seres vivos no
ambiente onde vivem e se desenvolvem. Entre os desafios para fortalecer a
harmonia necessária à vida de todas as criaturas está a consideração do risco
devastador do consumismo, incentivado por diferentes mecanismos da economia
global. Esses mecanismos deturpam as culturas, como denuncia o Papa Francisco,
na Carta Encíclica sobre a Casa Comum. Debilitam a imensa variedade cultural
que é um tesouro da humanidade.
Quando tudo se submete ao
consumo e ao dinheiro, convive-se com a indiferença diante de situações muito
graves, a exemplo dos extermínios em curso – de indígenas, moradores de rua,
mulheres, crianças. Extermínios até dos hábitos simples e saudáveis, a partir
de uma mentalidade que alimenta outros tipos de violência. Percebe-se, assim, a
necessidade do aprendizado de uma grande lição: cuidar da fragilidade que
arruína o alicerce do existir humano. É bem-vindo um amor civil e político,
assumido como propósito, para qualificar práticas e serviços; avançar na
direção de uma nova etapa civilizatória, capaz de substituir o atual cenário,
tão ferido pelas desigualdades, mentiras e hipocrisias disseminadas.
As lições são muitas e
exigem humildade, para cada pessoa adotar a condição de aprendiz. E no conjunto
de aprendizados necessários, merece destaque a sábia interpelação do Papa
Francisco, na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho: “A pior discriminação
que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual”. Seja aprendido o caminho
para o cuidado espiritual, necessidade de todos, sem exceção – um rumo para
lições e propósitos.
uito graves, a exemplo dos extermínios em curso – de indígenas, moradores de rua, mulheres, crianças. Extermínios até dos hábitos simples e saudáveis, a partir de uma mentalidade que alimenta outros tipos de violência. Percebe-se, assim, a necessidade do aprendizado de uma grande lição: cuidar da fragilidade que arruína o alicerce do existir humano. É bem-vindo um amor civil e político, assumido como propósito, para qualificar práticas e serviços; avançar na direção de uma nova etapa civilizatória, capaz de substituir o atual cenário, tão ferido pelas desigualdades, mentiras e hipocrisias disseminadas.
As lições são muitas e exigem humildade, para cada pessoa adotar a condição de aprendiz. E no conjunto de aprendizados necessários, merece destaque a sábia interpelação do Papa Francisco, na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho: “A pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual”. Seja aprendido o caminho para o cuidado espiritual, necessidade de todos, sem exceção – um rumo para lições e propósitos.