Vivemos numa sociedade que está em constante
evolução e transformação, algo que atinge não apenas o modo de viver das
pessoas, mas também o seu interior. O individualismo é uma das características
do mundo pós-moderno e globalizado, que propõe um estilo de vida no qual a
pessoa vive centrada em si mesma, fazendo-a viver como se Deus não existisse,
ou não fizesse parte de sua vida. É urgente, portanto, uma evangelização
católica capaz de “estourar essa bolha” na qual muitos parecem viver.
Mas, afinal, como podemos evangelizar nos dias de hoje? Como conseguir uma evangelização católica eficaz? Para responder a essas perguntas, buscamos as diretrizes do Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelli Gaudium. A partir das suas orientações, enumeramos 5 características sobre a evangelização católica que podem nortear a sua missão evangelizadora.
1. O anúncio é para todos
A Redenção é uma obra da misericórdia de Deus para
toda a humanidade, por isso o anúncio do Evangelho é para todos. Jesus não quis
que os Apóstolos formassem um grupo restrito de cristãos cuja salvação
estivesse garantida. Pelo contrário, Ele ordenou: “Ide, pois, fazei discípulos
de todos os povos” (Mt 28,19).
O Papa Francisco nos recorda que ser Igreja é ser o
fermento de Deus no meio da humanidade, levando a salvação àqueles que se
sentem perdidos e sem esperança, e que procuram por respostas e encorajamento.
“A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam
sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa
do Evangelho” (Evangelli Gaudium,114).
Como colaboradora da graça Divina, a Igreja precisa
ser o reflexo da ação de Deus em favor do Seu povo. Qualquer ação de
evangelização católica – que não tenha como primazia o anúncio de Jesus Cristo
como nosso Salvador – será falha. Segundo o Papa Francisco, “a Igreja é
enviada por Jesus Cristo como sacramento da salvação oferecida por Deus” (Evangelli
Gaudium, 112).
2. A evangelização católica é baseada na missão e
no discipulado
Todo batizado é naturalmente impelido pelo Espírito
Santo de Deus a ser um evangelizador. Todo aquele que experimentou o amor de
Deus torna-se um propagador da boa-nova de Cristo. Como exemplo, temos a mulher
samaritana que, após seu diálogo com Jesus, imediatamente tornou-se uma
evangelizadora. Muitos samaritanos passaram a acreditar em Jesus devido às
palavras daquela mulher (cf. Jo 4,39).
Por isso, uma nova evangelização, segundo o Papa
Francisco, deve “implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados”, (Evangelli
Gaudium, 120). Nesse sentido, além de estreitar seus laços com Cristo
e de buscar ser um testemunho real do Evangelho, é necessário que o cristão
tenha a oportunidade de aprofundar sua fé, afinal “todos somos chamados a
crescer como evangelizadores”, (EG, 121). Além disso, a
própria missão de evangelização deve
servir como um “estímulo constante para não nos acomodarmos na
mediocridade, mas continuarmos a crescer”, (EG, 121).
3. O papel da piedade popular na evangelização
católica
Cada nação, cada região do país, possui sua própria
cultura e é a partir dela, respeitando suas particularidades, que o Evangelho
deve ser transmitido. Os mais diversos povos, nos quais o Evangelho foi
inculturado, são também agentes da evangelização. A piedade popular
demonstra, segundo o Papa Francisco, que “a modalidade em que a fé recebida se
encarnou numa cultura e continua a transmitir-se”.
O Papa Paulo VI, em 1976, ressaltou que a piedade
popular “traduz em si uma certa sede de Deus, que somente os pobres e os
simples podem experimentar”, além de estimular as pessoas a “terem rasgos de
generosidade e predispõe-nas para o sacrifício até ao heroísmo, quando se trata
de manifestar a fé”, (Evangelli Nuntiandi, 48).
Mais recentemente, o Documento de Aparecida (2007)
reconhece a piedade popular como “uma maneira legítima de viver a fé, um modo
de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionários” (n. 264). Por
isso, ressalta o Papa Francisco, é necessário que a evangelização católica
respeite e olhe para a piedade popular com os olhos do Bom Pastor que não
julga, mas ama. “Só a partir da conaturalidade afetiva que dá o amor é que
podemos apreciar a vida teologal presente na piedade dos povos cristãos,
especialmente nos pobres” (EG, 125).
Na sua exortação apostólica, o Papa Francisco ainda
ressalta que as expressões da piedade popular “são um lugar teológico a
que devemos prestar atenção particularmente na hora de pensar a nova
evangelização” (EG, 126).
4. Um anúncio pessoal
O Papa Francisco nos convida há uma nova
evangelização católica, que compete a todo batizado. Trata-se de “cada um levar
o Evangelho às pessoas com quem se encontra, tanto aos mais íntimos como aos
desconhecidos” (EG, 127). Um anúncio pessoal que se dá por meio de
um conversa despretensiosa, no trabalho, em casa, na rua, em qualquer tempo e
lugar, pois um discípulo missionário deve estar sempre disposto a levar aos
outros o amor de Jesus.
Esse anúncio, num primeiro momento, se dá por meio
de um diálogo sobre suas esperanças, preocupações, alegrias e outros assuntos
que fazem bem ao outro. Apenas depois dessa conversa é que se pode apresentar
ao outro a Palavra de Deus, “sempre recordando o anúncio fundamental: o amor
pessoal de Deus que Se fez homem, entregou-Se a Si mesmo por nós e, vivo,
oferece a sua salvação e a sua amizade” (EG, 128).
A condição para esse anúncio é uma “partilha com
uma atitude humilde e testemunhal de quem sempre sabe aprender, com a
consciência de que esta mensagem é tão rica e profunda que sempre nos ultrapassa”
(EG, 128).
5. Evangelizamos com Maria
Por fim, não é possível pensar numa nova maneira de
evangelização católica sem contar com a intercessão e participação daquela que
é Mãe do Evangelho vivente – Maria. Assim como o Espírito Santo está sempre no
meio do povo de Deus, lá também está Maria, pois Jesus deu-nos ela como Mãe
quando na cruz expressou ao seu apóstolo amado: “Eis a tua mãe!” (Jo 19,27).
Cristo nos conduz à Maria, “porque não quer que
caminhemos sem uma mãe” (Evangelli Gaudium, 284). “Ela, que O
gerou com tanta fé, também acompanha ‘o resto da sua descendência, isto é, os
que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus’ (Ap
12,17)” (EG, 285).
Como Mãe de todos nós, Maria “é sinal de
esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça”
(EG, 286). O Papa Francisco ainda ressalta que Maria “através dos
diferentes títulos marianos, geralmente ligados aos santuários, compartilha as
vicissitudes de cada povo que recebeu o Evangelho e entra a formar parte da sua
identidade histórica” (EG, 286).
Maria é exemplo de prontidão, justiça, ternura e
contemplação, o que a torna um modelo eclesial para a evangelização
católica. Assim como Maria é Mãe de todos, a Igreja é a casa de todos.