12/04/2021

A Igreja não se fecha!

 

O que está em questão, é o que compreendemos por Igreja. Quando falamos a palavra “igreja”, pensamos no prédio em que nos reunimos ou pensamos na comunidade que é o Corpo de Cristo e o Templo do Espírito Santo?

Frei Vanildo Luiz Zugno

Escrevo este texto na terça-feira da Páscoa. Uma Páscoa diferente. Diferente como foi a do ano passado. Uma segunda Páscoa em meio à Pandemia. Uma Páscoa com celebrações restritas. E com poucas comemorações. Uma Páscoa com Igrejas fechadas ou com acesso limitado. Uma Páscoa com o comércio vazio e os cemitérios lotados. O choro da Paixão do Senhor continuou no sábado e domingo e segue ainda hoje pelo contágio, intubação e morte de pessoas cada vez mais próximas de nós.

O silêncio do sábado de espera foi rompido por uma notícia insólita. Um ministro do Supremo Tribunal Federal autorizou liminarmente a realização de cultos religiosos em todo o Brasil. Decisão monocrática e contrária a outras decisões anteriores do Pleno do STF. Prefeitos, governadores e até outros membros da Suprema Corte manifestaram-se contrários. As igrejas afiliadas ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) chamaram ao bom senso e à necessidade de não fazer dos templos um lugar de transmissão do vírus e de propagação da morte.

A intervenção de outro ministro do STF fez com que a disputa seja decidida amanhã, quarta-feira, no plenário do STF. Esperamos a decisão. Será uma decisão jurídica que todos os brasileiros e brasileiras terão como referência. Do ponto de vista religioso, no entanto, a polêmica veio colocar um ponto de não retorno no cristianismo brasileiro. E não apenas nesta ou naquela denominação religiosa. É um marco que atravessa todo o cristianismo porque, em todas as igrejas, há membros que defendem a abertura e membros que defendem o fechamento.

O que está em questão, é o que compreendemos por Igreja. Quando falamos a palavra “igreja”, pensamos no prédio em que nos reunimos ou pensamos na comunidade que é o Corpo de Cristo e o Templo do Espírito Santo? Se esta segunda compreensão é a que habita nossos corações, não há necessidade de templos abertos para praticar a fé. Onde dois ou mais estiverem reunidos, aí está Deus no meio de nós. Como diz a nota do CONIC, isto pode ser feito em família, online e no coração de cada um. E mais: onde houver um irmão ou uma irmã passando fome, com sede, nu, doente, preso... aí está o próprio Cristo. Não há necessidade de ir ao templo para encontrá-Lo. Ele está abandonado em nossas ruas, parques, praças perambulando por não ter casa e, desempregado, pedindo pão para seus filhos. Ele está clamando nos hospitais lotados e nas UTIs abarrotadas, esperando atendimento, intubado, morrendo... Os verdadeiros adoradores, já dizia Jesus, não são os que vão ao Templo de Jerusalém ou ao Monte Garizim para rezar, mas os que o adoram em Espírito e Verdade.

A decisão do STF será uma decisão jurídica. Prevalecerá a lei, a Constituição que esperamos seja interpretada com o bom senso que a situação merece. Mas a decisão de fé já está dada. As duas opções são claras: há os que adoram o Deus da Vida e os servidores da morte. Há os pastores que dão a vida pelas ovelhas (e os há em todas as igrejas) e há os mercenários que só pensam no dízimo e nas doações dos fieis. Há as Igrejas e há os grupos empresarias que exploram a fé dos pobres e desesperados.

Essa é a divisão básica entre as igrejas e em todas as igrejas. Independentemente do que decida o Supremo Tribunal Federal, cada um e cada uma sabe o lado que está tomando. Não há mais o que fingir. Deus está vendo. E todos nós também. Amém.

Foto: Arquivo Igreja Nossa Senhora da Paz - São Paulo