15/10/2019

Evangelizar as Cidades à luz do Magistério do papa Francisco


Na exortação apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho – EG) o papa Francisco demonstrou atenção especial pela “evangelização na cidade”, lançou luzes sobre o caminho a ser trilhado para que a Igreja seja mais incisiva no anúncio do evangelho, especialmente nas cidades.
Veja dicas de roteiro do Papa Francisco.



1) “Precisamos identificar a cidade e partir de um olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descubra Deus, que habita nas casas, nas ruas e nas suas praças” (EG 71).

O olhar para a cidade tem de ser um olhar sociológico, capaz de identificar seus problemas e contradições, sem, contudo, deixar de ser um olhar de esperança, de simpatia e de empatia. Um olhar com atitudes proféticas, um olhar de ternura e amor.
O olhar teológico leva a afirmar que na cidade há sinais da presença de Deus.
O olhar eclesiológico é a nucleação da comunidade de fé.
O olhar pastoral faz com que a Igreja reencontre o seu caminho de ação, reencontre o contemporâneo (viva o tempo real), que é o tempo da informação, da produção, do conhecimento, do saber cego.
O olhar profético significa ir em direção à cidade, tomar em consideração suas diversas realidades e os contextos nos quais as pessoas estão inseridas.

2) “Na cidade, o elemento religioso é mediado por diferentes estilos de vida, por costumes ligados a um sentido do tempo, do território e das relações que diferem do estilo das populações rurais” (EG 72).
É preciso proporcionar uma espiritualidade que preencha o vazio do homem urbano, que permita a vivência de experiências de fé, esperança e caridade na sua vida e na vida da comunidade.
3) As cidades são lugares privilegiados da nova evangelização (cf. EG 73). Por isso, “torna-se necessária uma evangelização que ilumine os novos modos de se relacionar com Deus, com os outros e com o ambiente, e que suscite os valores fundamentais” (EG 74).
As cidades necessitam de espaços de encontro, de oração e de comunhão com características inovadoras, mais atraentes e significativas para as populações urbanas
Primeiro, a nossa pastoral tem de ser evangelizadora, audaz e sem temores de anunciar a Boa-Nova de Cristo, consciente da pluralidade cultural e religiosa existente nas grandes cidades. Temos necessidade de uma mudança de mentalidade. Devemos trabalhar para não ter vergonha e resistir, anunciando Jesus Cristo: é preciso procurar um modo diferente, sermos ousados ao evangelizar. Ir às periferias existenciais sem medo.
O segundo desafio é o diálogo com a multiculturalidade, devemos ter criatividade.
O terceiro desafio é a valorização da religiosidade popular.
Nos dias atuais, nas cidades, devemos aproveitar os momentos das festas populares para oferecer uma catequese litúrgica e cristológica, com adequada pedagogia, ajudando os cristãos a passar do mero culto ao seguimento, da sensibilidade subjetiva à solidariedade para com os mais necessitados. A missão, então, supõe inclusão e aprendizagem.
4) “A cidade dá origem a uma espécie de ambivalência permanente, porque, ao mesmo tempo que oferece aos seus habitantes infinitas possibilidades, impõe numerosas dificuldades ao pleno desenvolvimento da vida de muitos” (EG 74).
Uma evangelização que leve a Palavra de Jesus aos núcleos mais profundos da alma das cidades. As cidades são multipolares, multiculturais. A Igreja é chamada a ser servidora de um diálogo difícil
O melhor remédio para os males urbanos (tráfico de drogas e de pessoas, abuso e exploração de menores, abandono de idosos e doentes, várias formas de corrupção e crimes) é o Evangelho.
Numa Igreja em saída, porém, isso não pode acontecer. Apresentamos cinco sugestões que julgamos importantes para ajudar a evangelização nas cidades: evangelização em rede, em células, por setorização, em parcerias e em sintonia com a Igreja local.

Evangelização em rede
E o que marca uma rede são os seus laços, os elos e a interconexão. A evangelização em rede, nas cidades, vai ajudar nas relações interpessoais.

Evangelização por setorização
Os setores são um belo modo de ser Igreja: Igreja discípula, Igreja missionária, Igreja profética, Igreja misericordiosa, Igreja nas ruas, nas casas, Igreja povo de Deus. Não podemos permanecer na sacristia nem na secretaria paroquial. 

Evangelização em parcerias
Fazer parcerias é estar comprometido com a satisfação das necessidades do outro.

Evangelização em células (ou núcleos)
A organização em células é constituída pela estratégia de reuniões nas casas dos membros e permite que a Igreja cresça bastante, formando polos de encontro e de evangelização. De acordo com o papa Francisco, a célula tem de ser missionária, ir ao encontro de todos para anunciar a beleza do evangelho, tornar-se uma família na qual se encontra a rica e multiforme realidade da Igreja (cf. FRANCISCO, 2015). 

Evangelização em sintonia com a Igreja local
As Diretrizes da CNBB 2015-2019 dizem que para a operacionalização da evangelização, exige-se um processo de planejamento (cf. DGAE 2015-2019, n. 128-140). Uma pastoral planejada (Igreja local), motivando as pessoas que vão participar, apresentando-lhes, com clareza, a natureza e a missão da Igreja e o conhecimento da realidade, será um instrumental nas cidades. O planejamento pastoral responsável, pensado e comprometido, leva em consideração a Igreja local e sua missão. É organizado, isto é, determina bem o que precisa ser feito, o modo de fazê-lo e as responsabilidades de cada um, segundo uma distribuição adequada do trabalho. Por exemplo: o Projeto de Evangelização Proclamar a Palavra, da Arquidiocese de Belo Horizonte, nas suas diretrizes, garante a unidade-convergência da evangelização numa metrópole, de modo a evitar dispersões, choques e divergências, isso sem falar das aventuras deletérias.

* Extraído de Revista Pastoral Paulus – Nov/Dez de 2019 - ano 60 - número 330 - pág. 11-18